23/02/2021
A Quaresma entrou no calendário litúrgico a partir do século IV, e se distingue dos demais tempos do ano, por ser um período de preparação para a Páscoa, centro do Ano Litúrgico. São quarenta dias marcados pelo aspecto penitencial, e, ao mesmo tempo, um momento de renovação das promessas do batismo. Essa caminhada pascal e de conversão traz presente os quarenta anos que o povo de Israel andou no deserto antes de chegar à terra prometida, terra de leite e mel, e os quarenta dias que Jesus passou no deserto, antes de anunciar a vinda do reino.
Desde a década de 1960, graças ao Concílio Vaticano II, a Quaresma, no Brasil, passou a ser celebrada em mutirão, em fraternidade. A Campanha da Fraternidade surgiu como um meio de desenvolver o espírito quaresmal de conversão, renovação interior e ação comunitária como a verdadeira penitência que Deus quer de nós em preparação para a Páscoa. Assim, teve como objetivo inicial, conscientizar os fiéis católicos da sua missão na Igreja; caminhar juntos e participar, foi a sua grande preocupação (1ª fase). Aos poucos, passou a acentuar os problemas sociais que afligiam o povo brasileiro (2ª fase). No entanto, ultimamente, tem buscado despertar os cristãos para as necessidades básicas existenciais que impedem os filhos de Deus de terem vida em plenitude (3ª fase).
A Campanha da fraternidade 2021 é ecumênica, isto é, as Igrejas que integram o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), também a assumem como clara demonstração de unidade, em vista da construção de um mundo justo, solidário e fraterno; esta já é a 5ª Campanha da Fraternidade Ecumênica (2000, 2005, 2010, 2016 e 2021). Sua abertura foi na Quarta-Feira de Cinzas, com o tema: “Fraternidade e diálogo: Compromisso de Amor” e o lema “Cristo é a nossa Paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a).
O Objetivo Geral da CF/2021 é: Através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo, convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual. Entre os Objetivos Específicos estão: Denunciar as violências contra pessoas, povos e a Criação, em especial, as que usam o nome de Jesus; encorajar a justiça para a restauração da dignidade das pessoas, superação de conflitos e alcançar a reconciliação social; animar o engajamento em ações concretas de amor ao próximo; promover a conversão para a cultura do amor; fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa.
O Papa Francisco enviou uma mensagem para a CNBB e para os católicos do Brasil, onde afirma: “O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia”; sintamos, neste período, a presença do Senhor nos ajudando na reflexão e revisão de vida. O Papa lembra ainda, que é tradição, há várias décadas, a promoção da Campanha da Fraternidade pela Igreja no Brasil, e define a Campanha como “um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa” e que o tema deste ano convida os fiéis a “sentar-se a escutar o outro” e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes “um mundo surdo”.
Abracemos as propostas da Campanha da Fraternidade, buscando também criar espaços de diálogo dentro de nossos lares e no convívio social, particularmente na comunidade eclesial (nos grupos, pastorais, movimentos...), uma vez que Cristo é sinal de unidade, rezou e pediu um único rebanho e um só pastor (Cf. Jo 17,20-21). Essa é a verdadeira conversão que o Senhor espera de nós nesse tempo quaresmal. Boa Quaresma, com fraternidade!
Dom Amilton Manoel da Silva, CP
Bispo diocesano de Guarapuava - PR
